A comunhão é o reconhecimento da presença viva de Jesus Cristo na Igreja que começa quando se aprende a identificar Cristo nos outros irmãos. A prática do evangelho baseia-se essencialmente em mutualidade, o que nos configura como corpo e, sobretudo, corpo de Cristo, pois estamos ligados a uma única cabeça que é ele.
Jamais o mundo verá Cristo na Igreja enquanto os cristãos não forem capazes de reconhecê-lo uns nos outros. É a comunhão que dava, aos primeiros cristãos, a convicção de que a presença de Cristo entre eles não era menor do que fora antes de sua ascensão.
O próximo e o irmão Há dois padrões estabelecidos nas Escrituras para nossas atitudes. O primeiro tem a nossa vontade como referência nas relações com o próximo ou com o mundo de maneira geral, ou seja, fazer ao outro aquilo que gostaríamos que se fizesse a nós, decorrente de amar ao próximo como a nós mesmos. O segundo tem a vontade de Deus como referência nas relações com os irmãos e situa-se, portanto, no degrau mais elevado da dimensão da comunhão. Nesse caso, o padrão deixa de ser o meu amor e passa a ser o amor de Jesus, que se entregou por mim. Amando uns aos outros como Cristo nos amou a ponto de dar a própria vida como prova maior de amor (Mc 12.33; Jo 13.34; 1 Jo 3.16), entramos na cadeia da vontade divina, pois Jesus fez o que viu e ouviu do Pai, e nós devemos praticar o que vimos e ouvimos de Jesus. Afinal, recebemos o Espírito Santo para nos transmitir tudo o que tiver ouvido para, assim, participarmos do conselho de Deus e sermos guiados em toda verdade sem o perigo de errar como aconteceu com os profetas contemporâneos de Jeremias (Jo 8.26, 38, 40; 15.15; Jo 16.13, Jr 23.22). Enquanto não agirmos em comunhão, o mundo não verá Jesus Cristo na Igreja e não poderá crer nele (Jo 17.21). Assim, precisamos mudar nosso padrão e atentar para a ordem de sermos "perfeitos como perfeito é vosso Pai que está nos céus" (Mc 5.48), perdoar como Deus nos perdoou, amar como Cristo nos amou, etc. Precisamos redirecionar nossa fé e crer que Jesus Cristo quer ser encontrado no outro, assim como o encontramos em sua palavra ou na oração. Mas, para isso, necessitamos de revelação. Reconhecer Cristo no outro é fruto da revelação de Deus A falta de revelação impede muitos de encontrarem Cristo na leitura da Bíblia ou na oração. Pelo mesmo motivo, a grande maioria não consegue encontrar Cristo no outro. Trata-se da mesma revelação que fez a opinião de Pedro distinguir-se das outras, que eram baseadas no conhecimento humano das Escrituras, quando respondeu a Jesus: "Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo!" (Mt 16.16). Foi essa revelação também que possibilitou a Simeão ("revelara-lhe o Espírito Santo que não passaria pela morte antes de ver o Cristo do Senhor" - Lc 2.26) olhar para o menino Jesus e ver o que os sacerdotes que o circuncidaram não viram. Crer que Cristo está no outro é o primeiro passo para abrir-se à revelação, pois é necessário que aquele que se aproxima de Deus creia que ele existe... (no irmão)! Encontrar Cristo no outro não depende do irmão, mas da revelação de Deus em nós (Mt 16.17). Nem mesmo em relação a Jesus houve unanimidade de maneira que todos vissem Cristo nele (Mt 13.54-58; Jo 6.41-44, 60-66); portanto, muito menos nós devemos ter essa pretensão. A mesma fé que temos para buscar Deus na Palavra e na oração é necessária para buscá-lo no irmão, sabendo que quem procura, acha! "Buscar-me-eis, e me achareis, quando me buscardes de todo o vosso coração..." (Jr 29.13). Precisamos ter um coração adequado para encontrar Cristo no irmão, sabendo que isso não depende exatamente dele. Quando não vejo Cristo no irmão, devo ter o mesmo desespero para me livrar das travas nos olhos que tenho quando não encontro revelação na Palavra e na oração. Essa deficiência jamais poderá ser atribuída ao irmão assim como não a atribuímos à Palavra ou à oração. Jesus foi absolutamente coerente com sua simplicidade ao escolher homens desprovidos de grandes potencias naturais para acompanhá-lo. Embora não tendo a expectativa da perfeição de seus discípulos e apóstolos, Jesus confiou-se a eles. Igualmente, não podemos ter expectativa da perfeição dos irmãos para nos confiarmos a eles. A superação da desconfiança somente é possível à medida que aprendemos a ver Cristo neles. Quando isso ocorre, o referencial deixa de ser o irmão e passa a ser Cristo (2 Co 3.17) que nele está, com o resultado de que Cristo passa a crescer em quem o vê no outro. Isso traz mudança de atitudes e, por meio dessa mutualidade, poderemos chegar à plenitude da estatura do Filho de forma que o corpo de Cristo produza seu próprio aumento (Ef 4.13-16). Fonte: Revista Impacto |
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