O homem se apresenta como ser de contemplação, ação e transformação. É um ser capaz de contemplar o outro na sua diferença ou admira a si mesmo como ser de possibilidades. Enquanto ser de ação, assimila o mundo de vida, que é consolidado e transmitido pela tradição e traça a sua conduta em vista do seu próprio bem. Além da ação, tem a capacidade de transformar os bens naturais, culturais, espirituais e humanos no intuito de sempre alcançar um conhecimento mais elevado, que o proporcione um bem estar satisfatório. Porém, ele se revela como ser audacioso, não para de transformar e produzir instrumentos, obras, objetos para sua satisfação.
Não há uma reflexão sobre o impacto dessa atitude sobre a sua própria sobrevivência. Nesse sentido, pode-se dizer como Emmanuel Mounier (1905-1950): “Só o homem inventa instrumentos e é depois capaz de os unir num sistema de máquinas que prepara um corpo coletivo à humanidade. Os homens do século XX enlouqueceram com este novo e onipotente corpo que construíram”. (1950, p. 55). Ele se torna refém da sua própria obra. Essa condição nos coloca diante da problemática da sua realização ou da sua plenificação.
A necessidade dessa plenificação coloca o homem no caminho de busca pela felicidade. Essa busca caracteriza a história do homem em todos os tempos, lugares e situações. Muitos caminhos foram trilhados e sua missão ainda continua firme e vigorosa. Muitos pensamentos, argumentos e obras são publicados entorno dessa felicidade. Trabalho, lazer, estudo e convívio devem proporcionar um estado de satisfações, alegrias e fortes emoções. Os padrões de vida, os comportamentos e estruturas são recriados no intuito de facilitar o acesso à tão sonhada e desejada felicidade. Tudo é possível desde que a felicidade seja garantida: tradições são esvaziadas, alianças quebradas, amor destruído e vida ameaçada.
Sendo assim, o discurso sobre felicidade, como um tesouro, não perde o seu poder de atração e persuasão. Diante disso, fica a pergunta: o que é felicidade? Filósofos, psicólogos e especialistas de outras áreas deram e continuam dando respostas a essa pergunta. Tais respostas não são conhecidas e nem refletidas pela maioria dos seres humanos. Porém, cada pessoa tenta elaborar a sua própria resposta e a faz uma máxima para seu comportamento. Aristóteles, um dos maiores filósofos da Grécia Antiga, diz que a felicidade é “uma matéria polêmica” (2007, p.40). Às vezes a felicidade é assumida como um estado de emoção ou frutos de experiências que proporcionam prazer sem limites e nem responsabilidades. Além disso, alguns concebem a felicidade como ausência de qualquer perturbação, dificuldades e sofrimentos, relacionando-a com os lugares paradisíacos ou a situações extasiantes.
Segundo Aristóteles, a felicidade consiste na “finalidade visada por todas as ações”. (207, p. 49). É o bem mais excelente que não só aperfeiçoa as suas habilidades como enobrece o seu próprio ser. Mas, esse bem e, portanto, a felicidade não provém da posse de bens, do sucesso, fama ou pelos títulos conquistados. Mas, provém da atividade racional em sintonia com a virtude. Portanto, o estado de plenitude, de bem estar não se reduz ao um momento ou a uma situação, mas no aperfeiçoamento do ser humano enquanto ser tal.
Numa sociedade consumista e hedonista, a felicidade se reduz ao ato de possuir bens particulares, transformando-os no Bem Supremo. Isso significa que a posse de um determinado bem vem com o propósito de solucionar todos os problemas e necessidades do homem. Nas datas comemorativas, percebe-se a multidão de homens, mulheres que vão às lojas, shopping e feiras atraída pelo anúncio de que uma boa compra alivia as tensões e é uma boa terapia para o estresse do cotidiano. A essa multidão é transmitido o ensinamento que para ser feliz é necessário ter o poder compra. Enquanto no Sermão da Montanha Jesus ensina a multidão que o ser feliz consiste na capacidade de renúncia, ser livre das amarras do poder, do sucesso e do ter.
Pe. José Willian Marques - Diocese de Araçuaí
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