Um tema muito discutido na mídia durante o mês de junho de 2015 foi a
questão de incluir nos Planos Municipais de Educação a ideologia de gênero.
O A12.com conversou Dom Júlio Endi Akime, bispo auxiliar da Arquidiocese
de São Paulo (SP) e secretário geral do Regional Sul 1 da CNBB que esclareceu a
posição da Igreja diante dessa discussão, como o tema ainda pode estar em
discussão na sociedade e a importância da família na educação e formação das
pessoas.
A12
- Explique a posição da Igreja diante da ideologia de gênero e a preocupação
com os que sofrem preconceito, discriminação ou algum tipo de exclusão.
"A Igreja rejeita decidida e fortemente a ideologia de gênero. Com
a mesma clareza e decisão rejeita o preconceito contra grupos sociais, a
discriminação e a exclusão de pessoas."
Dom
Júlio - A Igreja rejeita decidida e fortemente a ideologia de gênero. Com
a mesma clareza e decisão rejeita o preconceito contra grupos sociais, a
discriminação e a exclusão de pessoas. Uma coisa é ensinar e defender o
rompimento entre o sexo biológico e a identidade sexual; outra é a atitude
misericordiosa em relação às pessoas com tendências homossexuais. A ideologia
de gênero afirma que homem e mulher não diferem pelo sexo, mas pelo gênero, e
que ser menino ou menina é uma construção social imposta pela sociedade,
família e educação. A ideologia de gênero vai no caminho oposto da lei natural
e desconstrói o conceito de família, que tem seu fundamento na união estável
entre homem e mulher.
A Igreja rejeita a ideologia de gênero porque o projeto desconstrói a
família. Segundo essa ideologia os homens e as mulheres não têm atração pelo
sexo oposto por natureza, mas por causa de condicionamentos da sociedade. Por
isso o desejo sexual pode ser orientado para qualquer sexo, o que justificaria
o casamento de pessoas do mesmo sexo. Em vez da atração sexual pelo sexo
oposto, a ideologia de gênero apregoa uma sexualidade perversa polimorfa.
"A Igreja rejeita a ideologia de gênero porque o projeto
desconstrói a família."
Basta pesquisar a literatura disponível para se dar conta desse projeto
de desconstrução da família, do casamento entre homem e mulher, da maternidade
e paternidade. Cito um autor de vários manuais utilizados nas Universidades
norte-americanas para ilustrar o projeto da ideologia do gênero.
“A supressão da família biológica fará desaparecer a obrigação de
proceder à repressão sexual. A homossexualidade masculina, o lesbianismo e as
relações sexuais, fora do casamento, não serão consideradas apenas de maneira
liberal, mas também como opções alternativas, fora do alcance da regulamentação
do Estado. Em vez disso, até mesmo as categorias de homossexualidade e de
heterossexualidade serão abandonadas: a própria instituição das ‘relações
sexuais’, em que o homem e a mulher exercem um papel bem determinado,
desaparecerá. A humanidade poderá enfim alcançar a sua sexualidade natural perversa e polimorfa” (Alison
Jagger “Political Philosophies of Women’s Liberation”, Feminism andPhilosophy, 1977,
13; grifo meu).
A12 - Com a rejeição da ideologia de gênero nos planos municipais
de educação, há possibilidade dessa questão continuar em discussão? Por quê?
Dom
Júlio - A discussão vai continuar e é importante que os cristãos se
engajem conscientemente no debate público como cidadãos. Como cristãos não
queremos impor nossas convicções aos outros, mas também não renunciamos ao
nosso direito de participar democraticamente da educação e dos rumos da
sociedade brasileira.
Os adeptos da ideologia de gênero consideram a educação uma estratégia
importante para impor as suas convicções. O que vimos até agora na votação dos
Planos de Educação é o que se percebe no mundo todo: os defensores da ideologia
de gênero lutam por integrar sua visão nos programas escolares a fim de desconstruir
e suprimir a família biológica tradicional.
Não é justo tratar os cristãos como cidadão de segunda classe.
Infelizmente é próprio de uma ideologia a falta de diálogo com a ciência, com a
realidade e com a sociedade. Uma ideologia é um sistema de pensamento fechado
em uma lógica de ferro que não permite a possibilidade de revisar sua própria
posição. Muitas vezes os cristãos são chamados de “dogmáticos” (no sentido
pejorativo da palavra). Mas se prestarmos atenção ao modo como os adeptos da
teoria do gênero argumentam e agem perceberemos como eles são “dogmáticos” (no
pior sentido da palavra).
A12 - Diante de toda essa discussão gerada em torno da ideologia
de gênero o que podemos destacar sobre a importância da família na educação e
na formação da sociedade?
Dom
Júlio - A família biológica, formada por um homem-pai e uma mulher-mãe e
os filhos concebidos pela sua união (infelizmente temos que usar essa linguagem
para maior clareza num contexto de grande confusão!) é a célula mãe da
sociedade: a sociedade será o que for a família. A desconstrução da família, da
paternidade e da maternidade não é uma questão privada dos indivíduos. Ela terá
consequências deletérias para toda a sociedade.
Dois homens ou duas mulheres não concebem filhos! Sejamos realistas: a
procriação humana (plenamente humana) precisa de pai e de mãe! Além disso,
sabemos muito bem que pai e mãe não são intercambiáveis. Cada qual contribui
para o filho de modo diferente, permitindo que este construa a própria
identidade, principalmente a sexual.
Ter filho não é um direito! Ele não é um bem de consumo, que viria ao
mundo em função das necessidades ou dos desejos ou dos direitos das pessoas.
Embora o fato de alguém não poder ter filhos seja fonte de sofrimento, a
reivindicação dos lobbies homossexuais não é legítima. É preciso um homem e uma
mulher, ou melhor, um pai e uma mãe para gerar humanamente um filho. Querer
ignorar essa exigência humana e biológica é um forte indício de que a
reivindicação não é justa.
E se queremos falar
mesmo de direitos, devemos falar do direito da criança a ter pai e mãe para
construir a sua personalidade.
Fonte: www. A12.com
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