Liturgia: sinal de esperança na vida do povo

Liturgia: sinal de esperança na vida do povo
No silêncio de uma terra vermelha, 
manifesta-se o Deus de Israel – Esperança 
viva de libertação.
Alguns dias atrás pude fazer algumas experiências magníficas: dentre elas, uma na Prelazia de São Félix do Araguaia. Foram momentos surpreendentes – surpresas de Deus – que cravaram em mim uma ponta de Esperança. Esperança que vai além de uma crença emocional de possibilidades. Neste caso, uma esperança se aproxima muito da fé, é o acreditar no indizível que se faz presente no sensível, verdade divina na vida do povo. É no sabor destas vivências que gostaria de escrever sobre Liturgia.
 
 ...a liturgia possibilita viver a própria vida na Vida Divina que é atualizada em nossas celebrações[2]. 
A vida cristã tem como fonte a Sagrada Liturgia[1], não simplesmente como algo que sustenta a vida, mas como ápice, ou seja, cume desta vida cristã. É cume porque a existência é um caminho progressivo à plena comunhão com Deus. Por isso, a liturgia possibilita viver a própria vida na Vida Divina que é atualizada em nossas celebrações[2]. Tudo isso se dá na vida, prolongando na história o grande memorial do Senhor.
Antes de chegar à Prelazia de São Félix do Araguaia, um grande amigo me escreveu dizendo que a “Prelazia tem uma história que difere das outras Igrejas. Dizem que ela começou do avesso. Antes das igrejas, as escolas; antes dos padres, o povo, a política; antes de tudo, a vida; paralelo à fé, a luta pela terra e pela dignidade; paralelo à eucaristia, a luta pelo pão de cada dia”. Confesso, achei interessante, até considerei algo parecido como “serviço do povo” – uma liturgia.
Até então as coisas faziam muito sentido, pois era como se concretizasse uma parte da Oração do Senhor – “O Pão nosso de cada dia nos dai hoje...”. Um Pão que significa o próprio Cristo vivo no Altar, alimento espiritual e, também que significa o alimento terreno, que dá forças para o trabalho diário. Esta deve ser a compreensão de toda comunidade eclesial! Mas, onde estava a comunidade eclesial? Onde estava essa compreensão? É possível um bom rebanho sem um pastor? É possível uma boa liturgia sem uma comunidade?
Prelazia é marcada nacionalmente como ‘a Igreja modelo’, que tem entranhada em si o jeito de ser comunidade/Igreja. Paralelamente, lá encontrei um povo sedento de Deus, sedento de um Pastor... As coisas pareciam antagônicas, porque liturgia também é vida em comunidade e comunidade é sinal da presença de Deus. Como assim...? Onde estava a liturgia e sua compreensão? Onde estava Deus? Onde estava a vida do povo? Era como se eu olhasse três pontos distintos.
No entanto, entre as conversas e andanças, havia algo que apresentou como elo entre toda essa realidade: a Esperança. Porém, que não anulava a realidade, mas a deixava explícita, nua e crua diante dos olhos. Então entendi que a liturgia ali acontecia enquanto esperança na vida do povo. Pois, naquela terra vermelha, Deus se manifestava e queria ser conhecido. Este é o mistério de Deus que em cada celebração se torna uma epifania divina na vida de cada cristão.
Liturgia também é esperança. Uma esperança que se faz libertação, que não tira a alegria dos olhos mesmo em meios aos sofrimentos; que não permite o verde da vida se amarelar... É força, é confiança, é fé. Mas, sem dúvida, estamos diante de uma Igreja que carece de formação. Isso nos ensina que ornamentar Igrejas, preparar leituras, ensaiar bem os cantos, entre outros, não é o principal de uma autêntica liturgia.
 
A liturgia não serve para encher nossos ouvidos de palavras bonitas e bem cantadas, muito menos para impregnar em nossas roupas o odor da fumaça do incenso. A liturgia serve para ser sinal latente de esperança na vida.
A liturgia não serve para encher nossos ouvidos de palavras bonitas e bem cantadas, muito menos para impregnar em nossas roupas o odor da fumaça do incenso. A liturgia serve para ser sinal latente de esperança na vida. Um sinal que impulsiona a sempre mais caminhar rumo ao Eterno, razão da nossa Esperança cristã – este é o autêntico espírito litúrgico, que manifesta com a vida o mistério divino.
Para refletir: O que é ser Igreja? A Vida está em sintonia com a Liturgia e o Ser Comunidade? Como ser sinal de esperança no mundo? Como encontrar Deus, razão de toda esperança?
Sugestão de Leitura: Gaudium et Spes – Concílio Vaticano II

Abração cheio de esperança,
Wallison Rodrigues


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[1] Cf. SC 10.
[1] Cf. CIC 1068.

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