Ao
despedir-se do Brasil, no dia 17 de novembro de 1889, quando a família imperial
foi injusta e cruelmente expulsa de sua pátria, após o golpe militar que
instalou a República no país, como bem demonstra Laurentino Gomes em seu livro
“1889”, Sua Alteza Dona Isabel sofria. Era mesmo terrível aquele episódio feito
sem apoio popular, obrigando aqueles que tudo fizeram pelo Brasil independente,
de uma noite para o dia, saírem de seus palácios e meterem-se num navio, sem
nenhuma preparação, para irem para a Europa, banidos de seus direitos e
humilhados em sua dignidade. Os relatos da época demonstram que o povo amava a
família imperial e venerava a Dom Pedro II como um pai e a Princesa como
verdadeira mãe a quem desejava como Imperatriz sucessora. Porém, mulher forte,
dotada de nobreza, de altivez e, sobretudo, de uma fé inabalável em Deus,
partia com a alma lavada por ter vencido a ideologia escravocrata dos ricos
fazendeiros e políticos que causaram a queda de seu idolatrado pai. É conhecido
na história brasileira o diálogo entre a Princesa e o Barão de Cotegipe,
quando, após a assinatura da Leia Áurea, disse ela ao Barão : “Então, Sr Barão,
ganhei ou não a partida?” Ele, cortesmente, respondeu: “Certamente, Alteza, mas
perdeu o trono”.
Ao
estudar os movimentos políticos da segunda metade do século XIX no Brasil,
verifica-se que a causa escravagista marcou profundamente a queda da monarquia.
Apegados aos lucros fáceis de uma sociedade que gastava muito pouco com a mão
de obra operária, sobretudo na lavoura, os grandes fazendeiros causaram ao
Brasil a vergonha de ter sido o último país das Américas a abolir, por
completo, a escravatura. Não por culpa do Império, pois a família imperial
tinha posições bastante contrárias a tal regime trabalhista, demonstrando várias
iniciativas em favor da abolição. Porém, a Monarquia Brasileira não era
absolutista, mas parlamentarista e o Parlamento era dominado pelos ricos,
receosos de perder sua lucratividade.
Entre as
coisas interessantes da vida de Isabel, a Redentora, está a festa de seu
casamento, acontecido no dia 15 de outubro de 1864, na Capela Imperial, hoje
Igreja de São Sebastião, no centro do Rio de Janeiro, numa memorável cerimônia
que uniu a Princesa ao Conde D’Eu, neto do Rei Luis Felipe da França. Ela contava
com 17 anos de idade e ele 23. Após o enlace solenemente celebrado diante do
altar, Dom Pedro II assinava dois decretos: um, nomeando o novel esposo como
Marechal do Exército brasileiro e o segundo, libertando todos os escravos da
casa imperial, sendo este último um pedido fervoroso de sua filha e herdeira de
seu trono.
Já o
Mosteiro de São Bento do Rio de Janeiro, amigo da família imperial, havia
abolido a escravatura no seu recinto interno, e Dom Antônio Ferreira Viçoso,
7º Bispo de Mariana (1844-1878), apresentado pelo Império ao Papa, dentro
do regime do Padroado que unia a Igreja ao Estado, libertou os escravos da
Diocese, tão logo tomou posse na sede marianense, o que resultou numa
emocionante homenagem que os escravos lhe promoveram, como narra Dom Silvério
Gomes Pimenta em sua magnífica obra “A Vida de Dom Viçoso”.
Os
princípios morais e profundamente religiosos da Princesa, bem como sua elevada
cultura intelectual são resultado de uma educação primorosa que Dom Pedro II,
homem culto, inteligente e humanista, lhe proporcionou desde criança, dando-lhe
preceptores de alto nível acadêmico, nas aulas que ocupavam todas as manhãs e
todas as tardes até as vésperas do casamento. Sua principal educadora foi a
Condessa de Barral, Luiza Maria de Barros, a quem a Princesa dedicava
verdadeira admiração.
Notável é
a correspondência da Princesa com os Papas Pio IX (1844 - 1878), Leão XIII
(1878 - 1903) e Papa Pio X (1903 - 1914) quando, entre outros assuntos, Sua
Alteza propunha aos Sumos Pontífices a proclamação do Dogma da Assunção
Gloriosa de Maria ao Céu, o que veio a acontecer em 1950, já com o Papa Pio XII
(1939 - 1958), 29 anos após o falecimento da Princesa, ocorrido em Paris, aos
14 de novembro de 1921, com 75 anos de idade, tendo nascido no Rio de Janeiro,
a 29 de julho de 1846, uma quarta-feira, às 18h45. Hoje, os seus mortais se
encontram na Catedral de Petrópolis.
Quando a
Princesa assinou a Lei Áurea, no dia 13 de maio de 1888, o Papa Leão XIII lhe
enviou a Rosa de Ouro, uma das maiores honrarias prestadas pela Santa Sé a
eventos e a personalidades de destaque na história do mundo.
Dom Gil Antônio Moreira
Arcebispo de Juiz de Fora
Arcebispo de Juiz de Fora
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