Para nossa reflexão: o dízimo e a colcha de retalhos


“Uma de colcha de retalho é linda, é tecida por muitos tecidos, todos diferentes como se fossem gente, amores, flores unidas em um grande ramalhete!”

O mundo chegou a 7 bilhões de habitantes no início de novembro. Os governos vão acirrar as campanhas de controle da taxa de natalidade. Na lógica capitalista é preciso diminuir as bocas para “sobrar” mais para alguns privilegiados, afinal, não há recursos para tanta gente assim no planeta e numa sociedade que prega o acúmulo de bens. Parece que as pessoas ainda não querem entender que a solução não está em diminuir as bocas, mas sim, em aumentar a partilha.
A Bíblia apresenta Deus como senhor e doador dos bens da criação: “Do Senhor é a terra e suas riquezas, o mundo e seus habitantes” (Sl 24,1 e 1Cor 10,26). É Deus quem entrega a terra aos seres humanos. Nós a recebemos para nela vivermos. Toda a criação é sinal do amor que Ele tem por nós. Essa gratuidade divina deve se refletir no agir humano como uma resposta de amor. Recebemos a vida como uma dádiva que devemos estender a todos, de forma incondicional.
Acredito que o Dízimo não seja apenas um reconhecimento de que Deus é o Senhor de tudo que existe (Dt 26,10). Mas é partilha e solidariedade, expressão de amor generoso e gratuito. Não somente recebemos a vida de graça, mas dependemos uns dos outros para viver. Nascemos para conviver. Somos responsáveis uns pelos outros.
A nossa diocese de Guanhães realizou um trabalho muito bonito e eficaz de implantação do Dízimo em todas as comunidades paroquiais. Frei Geraldo e a comunidade de São José de Paulistas, que já estavam adiantados nesta experiência, levaram a ideia para a reunião da Área Pastoral de São João Evangelista, e daí a ideia se expandiu por toda a Diocese. Entramos em contato com os missionários do Pro-ide e agendamos um primeiro contato. Foi uma maratona de trabalhos, encontros, reflexões, formação de missionários, zeladores e zeladoras do dízimo, visitas às famílias. Tudo muito gratificante.
Na comunidade de Cantagalo, da paróquia Santo Antônio de Peçanha, uma coisa me chamou a atenção: na primeira celebração de devolução do Dízimo, apareceram crianças trazendo aberta uma colcha de retalhos e se colocaram na frente do altar. Dentro da colcha as pessoas depositariam seu Dízimo. Uma pessoa da comunidade falou então à assembleia que aquela colcha bonita só foi possível por causa dos muitos retalhos costurados ali, pedaços pequenos unidos uns aos outros. Lembrou a todos que o Dízimo era assim. Cada oferta, de cada pessoa, por pequena que fosse, era um pequenino retalho dessa colcha bonita chamada COMUNIDADE. Assim como a colcha agora podia agasalhar e aquecer, também a comunidade unida e participativa poderia acolher e agasalhar os irmãos e irmãs, através das pastorais, dos trabalhos sociais, da evangelização.
Há uma dimensão profética no Dízimo. O Dízimo não pode ser visto como uma forma de arrecadação de fundos ou de recursos para os trabalhos da Igreja. Ele é muito mais que isso. O Dízimo nos ajuda a ser construtores de um modo de viver solidário e fraterno. A colcha de retalhos tem muito a nos ensinar, não é?

Padre Marcello Romano - Administrador Diocesano
Fonte: www.diocesedeguanhaes.com.br

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