Páscoa e Ressurreição

O Senhor ressuscitou. Aleluia! “E disso nós somos testemunhas”, diz o apóstolo Pedro na 1ª leitura (At 10, 34-43). Hoje, segunda, dia 9 de abril, começa a oitava pascal. Uma semana inteira de comemoração da vitória de Jesus sobre a morte. A páscoa judaica começou na noite de sexta-feira, 6 de abril (para os judeus, dia 14 de Nissan) e dura, também, oito dias. É a festa da libertação de Israel da escravidão egípcia.

Dizemos que Páscoa é passagem. Significa, também, passar por cima, saltar, porque o Anjo que matou os primogênitos dos egípcios "saltou", isto é, "passou por cima" das casas judias marcadas pelo sangue do cordeiro, poupando os seus filhos mais velhos (Ex 12, 21-30). É costume, entre os judeus, os primogênitos jejuarem, como recordação do perigo a que estiveram expostos no Egito. Durante esses dias não comem pão e outras comidas fermentadas, para se lembrarem de quando um povo inteiro, conduzido pela vontade de Deus encarnada em Moisés, saiu tão apressadamente do Egito que a massa preparada para a fabricação do pão não teve tempo de fermentar. Nas primeiras noites celebra-se o Seder, durante o qual conta-se a história da festa, bebendo vinho; come-se a Matzah (pão sem fermento), harosset (ervas amargas) que trazem a recordação simbólica da escravidão no Egito e, depois, a libertação.

Na nova Páscoa, celebramos a vida do novo Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo (Jo 1, 29.36): “Foste imolado e, por teu sangue, resgataste para Deus homens e mulheres de toda tribo, língua, povo e nação” (Ap 5,9).

A Ressurreição não é um fato isolado na vida de Jesus, mas é a realização de toda a sua mensagem, de sua vida. Cristo é o novo Adão, no qual todos somos vivificados (1 Cor 15, 22; Rm 5, 14).A Ressurreição é uma luz que lança raios para a frente e para trás, ilumina o passado e o futuro.

A Ressurreição de Jesus é o ponto de partida de todo o Cristianismo, de toda a Teologia cristã. A partir dela, os apóstolos releem toda a história de seu Mestre, pois o que aconteceu é mais que a revivificação de um cadáver, devolvendo-lhe a Bios, a vida física. É muito mais do que o que Jesus fez com o filho da viúva de Naim (Lc 7,11-17), com a filha de Jairo (Mc 5, 35-43) e com Lázaro (Jo 11). É a transformação radical da existência corporal para uma existência do espírito, com a corporalidade glorificada. Jesus sempre foi a imagem visível de Deus invisível (Cl 1, 15), a epifania de Deus; sempre foi Deus corporalmente presente no mundo; nele habita corporalmente a plenitude da divindade (Cl 2,9); e, portanto, ao ressuscitar, Cristo assumiu a vida conforme Deus.

A evidência histórica da Ressurreição repousa no testemunho dos discípulos e dos apóstolos: “O Senhor ressuscitou verdadeiramente e apareceu a Simão” (Lc 24, 34). Ninguém viu, ninguém presenciou, ninguém “registrou” a Ressurreição de Jesus. Portanto, não é um fato crítico-epistemológico, histórico e encontrável por um cientista. O que temos de histórico é o testemunho dos apóstolos. O historiador pode verificar que houve homens que creram e pregaram a Ressurreição, fato acessível pela fé. Historicamente aconteceu algo na vida dos apóstolos, pois homens simples foram transformados em pregadores fantásticos, corajosos, destemidos. Eles, em suas pregações, insistem em dizer que o que morreu crucificado é o que agora ressuscitou (1 Cor 15, 3-4; At 2, 23-24).

Qual é o sentido que damos hoje à Páscoa/Ressurreição de Cristo? O que pregamos e vivemos hoje? Uma autossalvação, o homem dominando aBios? A vida material? O homem quer dominar a vida orgânica (a simples Bios), muito aquém da vida Zoé (Eterna). Qual é a eternidade que buscamos? Que imortalidade queremos? Que Páscoa buscamos?

Padre Ismar Dias de Matos

p.ismar@pucminas.br


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