O significado de Maria concebida sem o pecado em Santo Agostinho


Introdução 
Dia 08 de dezembro celebraremos na Igreja, uma festa mariana importante, a Imaculada Conceição de Nossa Senhora. A Igreja primitiva teve fé que em Maria, por graça de Deus, viveu sem o pecado original para conceber na carne o Filho de Deus sem o pecado. Dessa forma fala-se dela como a Imaculada, isto é, sem a mancha do pecado; conceição, concebida na realidade humana mas sem o pecado que passa de pai para filho e que pelo batismo nos vem dada a graça de sua superação. Agostinho desenvolveu uma doutrina mariana que influenciou a Igreja depois do século IV até os momentos atuais. O Vaticano II tomou muito de Santo Agostinho (354-430) a respeito de Maria Imaculada, bem como a concepção de Igreja, esposa de Cristo, chamada a viver a situação de Maria no mundo de hoje. A seguir vejamos alguns dados vindos dos discursos agostinianos sobre Maria, Mãe de Cristo, Mãe da Igreja. 

1. Maria fez a vontade do Pai
Agostinho fala da grandeza de Maria como aquela que fez a Vontade do Pai. Em dois discursos(25,7-8; 72A, 7-8) falou o bispo de Hipona a respeito da importância de Maria na vida do Senhor, e na Igreja de Jesus Cristo. Interpretando o evangelista e apóstolo Mateus(cf. Mt 12, 49-50) na qual alguém fez notar a Jesus que sua mãe e seus irmãos estavam de fora perguntou Jesus quem seriam tais pessoas e apontando aos discípulos afirmou que sua mãe e seus irmãos são aqueles que fazem a vontade do seu Pai que está nos céus, sendo dessa forma irmão, irmã e mãe em Jesus Cristo. Para Agostinho a Virgem Maria fez a Vontade do Pai, na qual foi concebida, escolhida pelo Pai porque dela a salvação nascesse para nós entre os seres humanos e foi criada por Cristo antes que Cristo viesse criado nela. Maria fez a vontade do Pai ao dizer sim ao seu plano de salvação de modo que o seu Filho pudesse vir a este mundo para salvá-lo de seus pecados. 

2. A sua santidade
Maria é percebida como santa porque cumpriu inteiramente a Vontade do Pai, de modo que conta mais a sua situação de discípula de Cristo que ser sua mãe. Maria viveu o discipulado no Senhor, manifestando uma sua vida de santidade. Ela é bem aventurada porque antes de dar o Mestre na carne, o levou no seio. Maria foi feliz porque antes de dar à luz ao Senhor, o trouxe na mente. E para dar uma maior demonstração, Agostinho tem presentes a atuação de Jesus Cristo que sendo acompanhado pelas multidões e realizando milagres divinos percebeu uma mulher ao exclamar-lhe: bem-aventurado foi o seio que trouxe Jesus ao mundo e também o seu ventre(cf. Lc 11,27). O Senhor Jesus diz a ela e para todos os seus discípulos, discípulas que muito mais felizes são os que ouvem a Palavra de Deus e a guardam em seu coração(cf. Lc 11,28). 

3. Ouvir e guardar a Palavra
Para Santo Agostinho, Maria é feliz, bem-aventurada, porque não só ouviu a Palavra de Deus mas a guardou no seu interior. Ela viveu a verdade de Deus no coração mais que a carne no seio. Para ela, é Cristo a verdade no seu coração porque se tornou pessoa humana no seu seio. Maria foi uma mulher que guardava tudo em seu coração, meditando as maravilhas do Senhor realizadas através dela, sua serva. 

4. O ser de Maria: Imaculada Conceição 
A Virgem Maria precedeu a Igreja como sua figura. Na obra Primeira Catequese aos não Cristãos (XXII,40) afirmou Agostinho que Jesus nasceu de uma Virgem chamada Maria que viveu esta realidade não só na concepção, mas no parto e até a morte iluminando dessa forma a vida da Igreja. 
Maria foi concebida sem o pecado original por graça de Deus. A Igreja deve seguir os passos de Maria ainda que neste mundo haja as deficiências, as limitações, os pecados junto com a graça do Senhor. No entanto é maior a graça que o pecado. Um dia viveremos livres do pecado de modo que também nós seremos por graça do Senhor, imaculados. Assim é Maria mãe de Cristo pelo fato de dar à luz os membros de Cristo, que somos todos nós. Maria é porção da Igreja, membro excelente, membro do corpo total. A cabeça é o Senhor, diz Agostinho. Por sermos membros de Cristo, a Igreja nos acolheu pelo batismo como seus membros de modo que fomos levados à luz da verdade, que é Jesus Cristo. Esta mãe santa, digna de honra, semelhante a Maria, dá a luz e é virgem, porque o dom vem de Deus. 

5. Maria é a advogada de Eva
Os Padres da Igreja tiveram bem presentes a queda do primeiro Adão e a graça do segundo Adão, Jesus Cristo, doutrina bem desenvolvida no Apóstolo Paulo. Da mesma forma, dirão os Padres em relação à primeira e a segunda mulher. Agostinho seguiu os padres anteriores, sobretudo Justino, Tertuliano, Orígenes em relação à Eva e a Maria. Se por meio de uma mulher(Eva) a morte caíra sobre nós, por meio de outra mulher(Maria) a vida ressurgiu em nós. em modo que o diabo fosse vencido em relação à uma e outra natureza, masculina e feminina com a presença do Senhor Jesus, vencedor da morte e do pecado pela cruz e sua ressurreição. 

Conclusão 
Santo Agostinho expressou bem o mistério da Imaculada Conceição da Virgem Maria, Mãe de Deus, sem o pecado por graça do Senhor. Maria leva nossos pedidos ao seu Filho Jesus Cristo. Agostinho estimula às pessoas para que vivam como Maria, mulher meditativa, orante e disposta a servir as pessoas, sobretudo os pobres. Ela viveu a graça de Deus na simplicidade e no amor. Ela nos ensina a superar o mistério do mal e do pecado, em nossas vidas tanto na família, como na comunidade e na sociedade uma busca de conversão contínua ao Senhor Jesus, aos outros e conosco mesmos. Maria ajuda-nos a servir as pessoas na pessoa de Jesus Cristo fazendo sempre a vontade de Deus Uno e Trino. 

+ Dom Vital Corbellini
Bispo diocesano de Marabá (PA)

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