Protagonismo!
Expressão que pode ser facilmente compreendida quando diretamente relacionada
ao teatro. Neste, encontramos diferentes funções, incluindo artistas principais
e figurantes, bem como expectadores. O dicionário define protagonismo como:
“qualidade da pessoa que se destaca em qualquer situação, acontecimento,
exercendo o papel mais importante; personagem principal”. Considerando os
palcos da vida, ninguém pode ser mero expectador, ficar passivo “vendo a vida
passar”. Numa sociedade marcada por diferentes disputas e com um histórico de
desigualdade e injustiça social o jovem é convocado a assumir sua missão, o seu
papel transformador. Dito isso, o que implica ser protagonista?
A
fase da juventude é marcada por intensas buscas e descobertas. Não é algo
passivo, mas um processo de construção da identidade, da autonomia, de ser
sujeito, que assume suas particularidades em cada pessoa. Ser jovem não é
adjetivo, mas sujeito! A evangelização das juventudes é o trabalho de educar
para a liberdade, de possibilitar consciência crítica, para que os jovens
possam assumir e transformar sua história. Ao longo da trajetória do povo de
Deus encontramos vários registros de jovens que assumiram seu protagonismo que
iluminam a caminhada atual.
“Na
vivência do protagonismo juvenil está a Teologia do Êxodo. A Teologia da saída
de um mundo de dependência para um mundo de liberdade. De um mundo fechado
sobre si para abrir-se às relações, sem perder a identidade”. – DICK, Hilario.
É bastante emblemática a figura de José do Egito. Ele era o filho
mais novo e o mais amado de Jacó. Por motivos de ciúme e raiva, os outros irmãos
o vendem como escravo. No Egito, torna-se administrador do palácio do faraó,
proporcionando mais tarde uma reforma agrária, beneficiando até mesmo seus
irmãos que o haviam maltratado. É um retrato de um jovem que, em meio às
dificuldades de seu povo e de sua vida, vai construindo sua história, sua
identidade e até mesmo transformando o povo ao seu redor. Mas claro que também
há o perigo de se influenciar negativamente pelo sistema dominante, repetindo a
mesma opressão que foi vítima. Protagonismo está diretamente relacionado com
justiça, libertação e superação da opressão. Também está ligado a construção
coletiva. O protagonismo isolado de um processo participativo, do
reconhecimento da alteridade (DGAE 11 ), cria autoritarismos perniciosos e
contrários ao projeto do Reino.
O
tempo da juventude é uma epopeia da busca e da conquista. O jovem que não sai
de si (não sai do Egito) e não busca mover-se nas relações e organizações, além
de não acreditar em si, é alguém que está fadado a não encontrar-se no protagonismo
para o qual foi feito. Querer que o jovem seja protagonista de si ou de sua
organização é querer que ele seja ele, ficando evidente que uma identidade
nunca vai contra a identidade do outro. Para afirmar essa “identidade” é claro
que o jovem vai negar submissões, qualquer que ela seja. Veja-se a história do
filho pródigo (Lc 15, 11s). Um grande desejo do jovem é a autonomia. Ele também
precisa aprender a ser livre, mesmo errando. Jesus Cristo sempre respeitou as
instituições, mas nunca sacrificou sua liberdade ante elas. Recorde-se a
liberdade ante Herodes (Lc 13, 31s), a liberdade e severidade frente às
autoridades religiosas (Mt 23, 13s), a liberdade ante o preceito do sábado (Mt
2, 27). DICK, Hilario.
O
jovem, como um corpo e ser em construção, é um santuário de Deus, é divino!
Pensar no processo de construção da identidade, de autonomia, enfim, do
protagonismo é colocar-se a caminho com a juventude, é sair do Egito,
compreendendo e amando-a. Vendo-se nela e com ela. Longe dessas palavras, afirmar
que protagonismo é algo fácil, simples, mágico. É processo! É caminho! É
mistério e encanto. É, também, Deus.
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