A
importância da paz em nossas vidas e, sobretudo, a corresponsabilidade em se
conquistá-la e promovê-la é necessidade permanente, pois o comprometimento
desse dom vem de deficiências em posturas individuais. Essas condutas geram
terríveis focos de tensão: conflitos causados pelas desigualdades entre ricos e
pobres, a mentalidade egoísta e individualista do capital financeiro
desregrado, terrorismo e criminalidades, fanatismos e fundamentalismos
religiosos. Esses e outros males ameaçam, continuamente, a paz.
Na
direção oposta das atitudes que geram colapsos, há uma lista de “obras do bem”
que enriquecem o mundo e indicam que a vocação natural de cada pessoa é ser
operário da paz. Importa, nesse sentido, investir sempre, em todas as
circunstâncias e de diversos modos, no cultivo pessoal da aspiração pela paz, compreender
esse anseio como essencial. Assim, todos precisam reconhecer que cada ser
humano nutre, na sua interioridade, o desejo de uma vida feliz, plena e
bem-sucedida. Não se alcança essa meta sem que cada um, com a própria força,
faça de si um coração de paz. Quem não se dedica a esse compromisso torna-se
empecilho para a paz. Esse dom de Deus depende do comprometimento e convicção
na busca por um humanismo integral, fundamentado no irrestrito respeito à
dignidade de cada pessoa.
Por isso,
é preocupante a desumanização em curso no cenário mundial, impeditivo para a
consolidação dos alicerces fundamentais às sociedades solidárias e fraternas.
Esse grave processo gera desgastes e perdas que podem se tornar irreversíveis.
Na sua raiz, estão pessoas perigosas, que desconhecem qualquer sentido
humanístico e, portanto, ignoram o significado do dom de viver.
Consequentemente, tornam-se peso sobre os ombros da humanidade e fazem da
conquista da paz uma tarefa ainda mais difícil. Percebe-se, assim, que é indispensável
a cada pessoa recompor a gramática inscrita em seu coração pelo Divino Criador,
com a ajuda indispensável de vivências familiares, dinâmicas educativas e
culturais.
Nesse
horizonte, é inquestionável a importância de se reconhecer que há um direito natural
e, ao mesmo tempo, diretriz, que não se estabelece a partir do que está no lado
de fora da interioridade. Trata-se de uma convocação que se inscreve na
natureza do ser humano, para realizar fielmente o projeto universal divino.
Desconhecer ou tratar com descaso e indiferença essa verdade corrói a
possibilidade da conquista da paz, pois compromete a condição humana de ser
coração da paz. Não basta a quietude ou se compreender como “inofensivo”.
Quando um indivíduo adota princípios individualistas que se transformam em
mesquinharia, contribui para enfraquecer a dimensão social e comunitária que é
intrínseca ao sentido autêntico de paz.
X
by tom
Assim, é
imprescindível o irrestrito e incondicional respeito à dignidade de cada ser
humano, que é imagem do Criador. Trilhar essa direção traz como
consequência a superação de toda arbitrariedade. É conduta com força
transformadora, que reconfigura os cenários da sociedade. Faz com que as
pessoas detentoras de maior poder econômico e político não aproveitem dessa
condição para atropelar direitos dos menos favorecidos. Quando se respeita a
dignidade de cada pessoa, adotando essa conduta como princípio, realidades
degradantes são reconfiguradas com velocidade meteórica.
Por isso
mesmo, as instituições todas têm o dever de se tornar protetoras dos direitos
fundamentais. De modo muito especial, é preciso promover o respeito à vida e à
liberdade religiosa, sob pena de nunca se poder alcançar a paz. O respeito à
vida em todas as suas etapas há de se tornar um compromisso inegociável. A
defesa da liberdade na vivência da fé exige diálogo e reciprocidade, a
consideração fundamental de que o ser humano está em permanente relação com um
princípio transcendente e fundamental para a existência.
Com
convicção, deve-se reconhecer que o direito à vida e à livre expressão da fé em
Deus não está nas mãos do homem. São princípios que não podem ser
desrespeitados por relativismos éticos e morais. Quando são desconsiderados
esses direitos, há séria ameaça à cidadania, ao compromisso de cada pessoa em
se empenhar para promover a paz. E os resultados serão sempre nefastos para a
humanidade, que vagará, cada vez mais, sem rumo, como gente perdida justamente
por não conseguir ser cidadão, operário da paz.
Dom
Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo de Belo Horizonte
Arcebispo de Belo Horizonte
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