Há poucos
dias tivemos o feriado nacional de Finados, dia de comemoração dos fiéis
falecidos. Fizemos a memória dos nossos entes queridos que já partiram para a
casa do Pai. Em razão de nossa fé cristã, cremos que a morte não é o fim de
todas as coisas. Ao contrário, vivemos na esperança da ressurreição em Cristo.
A Liturgia daquele dia fortaleceu a nossa fé na ressurreição. Nela ouvimos que
“Em Cristo brilhou para nós a esperança da feliz ressurreição. Para os que
crêem em Cristo a vida não é tirada, mas transformada. E, desfeito o nosso
corpo mortal, nos é dado nos céus um corpo imperecível”. À luz desta nossa fé
meditamos sobre o mistério da morte. Tivemos também a oportunidade de refletir
sobre o sentido do viver e do morrer, de fazer a saudosa memória dos nossos
entes falecidos, mas vivos em Deus, e de animar-nos na esperança de um dia
participar com eles da glória em Cristo Jesus. Como é ponto doutrinal pacífico
entre nós, católicos, “a Igreja terrestre, desde os tempos primevos da religião
cristã, venerou com grande piedade a memória dos defuntos (...) e ‘já que é um
pensamento santo e salutar rezar pelos defuntos para que sejam perdoados de
seus pecados’ (2Mc 12,46), também ofereceu sufrágios em favor deles. A nossa
oração por eles pode não somente ajudá-los, mas também tornar eficaz a sua
intercessão por nós” (Catecismo, 958).
Cristo é
o vencedor da morte e o garantidor de que após a nossa morte ressuscitaremos e
viveremos para sempre. Consequentemente, contemplando o mistério pascal de
Cristo, vemos afastar para longe o estigma do fim fatídico e desesperador da
morte como se tudo tivesse acabado, e temos presente os motivos suficientes
para permanecermos firmes na alegre esperança da vida plena e eterna com Deus e
junto aos santos e santas do céu.
Pois,
hoje, a Igreja celebra a solenidade de Todos os Santos e Santas. Segundo a
Bíblia são os justos que estão nas mãos do Senhor porque em vida foram provados
e julgados dignos, confiaram no Senhor e perseveraram no amor, tendo sido dado
como a eleitos a graça e a misericórdia de Deus (cf. Sb 3, 1-9). De acordo com
o Apocalipse são os que tinham sido marcados com o sinal de servos de Deus e a
multidão imensa de gente de todas as nações, povos e línguas que ninguém era
capaz de contar e que trajavam vestes brancas e traziam palmas na mão e que
proclamavam diante de Senhor: “A salvação pertence ao nosso Deus, que está
sentado no trono, e ao Cordeiro (Ap 7, 4-10). Mais precisamente conforme o
Evangelho da Missa de hoje - Mt 5, 1-12a) - é a multidão dos que viveram
segundo o espírito das bem-aventuranças, no amor de Deus e na prática do amor
ao próximo, produzindo os frutos das obras de misericórdia. O santos não são
apenas os heróis canonizados pela Igreja, mas todos os que corresponderam ao
plano de Deus e lutaram para viver segundo a sua vontade; por isso, vivendo como
filhos e filhas de Deus e deixando-se revestir com a sua santidade, trazem na
mão a palma da vitória.
A Igreja
nos convida, especialmente na Liturgia, a render ação de graças ao Senhor,
festejando a cidade do céu, a Jerusalém celeste, onde os santos e santas cantam
eternamente a glória de Deus. Convida-nos também a contemplar alegremente a
memória e o exemplo de todos eles para imitá-los seguindo-os no caminho do bem
e a invocar a sua intercessão em nosso favor enquanto peregrinamos aqui e agora
rumo à pátria celeste.
Na oração
do “Creio”, proclamamos também esta fé: “Creio na “Comunhão dos Santos”.
Aprendemos na Catequese que a comunhão dos santos é precisamente a assembleia
de todos os santos, isto é, a Igreja. O Catecismo nos ensina a rezar, dizendo:
“Cremos na comunhão de todos os fiéis de Cristo, dos que são peregrinos na
terra, dos defuntos que estão terminando a sua purificação, dos bem-aventurados
do céu, formando todos juntos uma só Igreja, e cremos que nesta comunhão o amor
misericordioso de Deus e dos seus santos está sempre à escuta das nossas
orações” (Catecismo, 962, do “Credo do Povo de Deus”). O n. 961 explica que,
“em Cristo que morreu por todos, as pessoas santas se inter-relacionam de tal
sorte que aquilo que cada um faz ou sofre em Cristo e por Ele produz fruto para
todos”. Por isso, vivemos na inter-comunhão de orações entre nós na terra e
entre nós os da terra e os do céu.
Alegremo-nos,
pois, dando graças a Deus pelos bem-aventurados nos quais a graça de Deus
produziu abundantes frutos de bem e de vida, e supliquemos a Deus por
intercessão dessa multidão de santos e santas, a graça de seguirmos, alegres e
encorajados, a mesma trilha da bem-aventurada felicidade de servir e
amar.
Dom
Caetano Ferrari, OFM
Bispo
de Bauru (SP)
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